sexta-feira, 21 de novembro de 2008

JUVENTUDES BRASILEIRAS

Publicado em: Correio Braziliense (20/10/2008), Diário Catarinese (SC) (22/10/2008), O Dia (RJ) (22/10/2008), O Imparcial (MA) Por Miriam Abramovay23/10/2008

O Ipea, em análise à Pnad 2007 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) focaliza aspectos importantes para se pensar o presente e o futuro de um segmento fundamental da sociedade brasileira: a juventude de 15 a 29 anos. Estamos falando de 50,2 milhões de jovens que representam 26,4% da população total. O trabalho centraliza a análise em duas questões relevantes para essa juventude: educação e raça.

O estudo corrobora o que se tem discutido sobre o tema. Que não há somente uma juventude, mas juventudes, que se constituem um conjunto social diversificado com diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e poder na nossa sociedade. Existem muitos e diversos grupos juvenis, com características particulares e específicas, que sofrem influências multiculturais e que, de certa forma, são globalizados.

Quando o assunto é educação e juventude, muitas são as carências que ainda se registram em termos de eqüidade e qualidade, ou seja, é essa combinação explosiva que, por um lado, permite aos jovens tomar consciência das oportunidades e possibilidades existentes na sociedade, mas, por outro, muitas vezes não lhes dá condições para aproveitá-las. O resultado passa a ser uma grande frustração, que desanima os jovens e os empurra ao abandono e à deserção escolar, especialmente aqueles provenientes dos estratos mais pobres e excluídos.

Estabelece-se uma espécie de defasagem entre educação e expectativas de realização, também relacionadas com a inserção no mercado de trabalho, já que uma das principais dificuldades enfrentadas pelos jovens é a falta de capacitação apropriada às demandas do mercado de trabalho e de experiência em relação aos adultos. A elevada seletividade do mercado, o que por sua vez se acentua em período de reestruturação da economia, dá mais oportunidade àqueles que dispõem de altos níveis educacionais.

No entanto tivemos alguns avanços, como mostra a Pnad, apesar de que os resultados ainda estejam aquém do desejado. O analfabetismo nos últimos 14 anos teve redução média de aproximadamente 0,5% ao ano. Hoje, no país, a taxa de analfabetismo é de 10%, sendo que, no Nordeste, atinge 20%; na região urbana metropolitana a taxa cai para 4,4% e, nas áreas rurais, é de 23,3%. Se olharmos os dados por raça, os jovens brancos apresentam taxa de analfabetismo de 6,1%, enquanto os jovens negros 14,1%.

Houve, também, melhoria no total de tempo de estudo entre os jovens. A taxa média brasileira atingiu 7,3 anos: 8,0 anos na região Sudeste; 6,0 anos no Nordeste; 8,5 anos entre a população urbana, enquanto somente 4,5 anos na rural, sendo que a população branca tem, em média, dois anos de estudo a mais (8,2 anos) que a população negra (6,4 anos).

Tivemos avanços? Sim. Os índices de analfabetismo juvenil diminuíram gradualmente. A taxa de freqüência líquida aumenta entre os jovens de 15 a 17 anos; de 1997 a 2007 se encurta a distância entre o analfabetismo dos jovens brancos e negros; a matrícula dos jovens negros no ensino médio triplicou desde 1997.

No entanto, temos ainda muitos contrastes, como mostram os níveis entre a escolaridade de jovens urbanos e os rurais, sendo a dos últimos 30% menor.

Desafios? São muitos. Enfrentar com determinação e competência os problemas recorrentes do abandono escolar, a distorção idade/série, a escassa matrícula dos jovens de 15 a 17 anos no ensino médio (somente 50%), tirar da pobreza os 14 milhões de jovens (cujo núcleo familiar recebe até meio salário mínimo) e aumentar as chances de trabalho decente para eles, levando em conta que, em 2007, 4,6 milhões estavam sem emprego, ou seja, 63% do total de desempregados no país.

Esses são alguns dos desafios que temos diante e que requerem respostas rápidas e consistentes. Essas já estão sendo dadas, em certa medida, já que nos últimos anos se incorpora na agenda nacional, como prioridade, políticas públicas de, para e com as juventudes. O governo federal, por meio da Secretaria Nacional de Juventude, e o Conselho Nacional de Juventude, junto com a sociedade civil organizada, têm um papel importante e ativo nesse processo. Esse é um esforço que requer a participação efetiva do setor público, federal, estadual e municipal, com o apoio do setor privado. É preciso assumir real co-participação na elaboração e implementação das políticas públicas para as juventudes, e somente dessa forma poderemos afirmar que estamos ajudando a construir o presente e o futuro que tanto merecem nossos jovens.

Miriam Abramovay é socióloga e coordenadora de pesquisa da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (RITLA).

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