sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Os jovens e o analfabetismo no Brasil


Comemoramos em 8 de setembro o Dia Internacional da Alfabetização e a existência de milhares de jovens não-alfabetizados no Brasil revela que a concretização do direito à educação para todos ainda é um grande desafio para o país. Apesar da expansão do atendimento escolar nos últimos anos, o Censo de 2000 identificou 2,8 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não sabem ler nem escrever. Destes, 45,5% residem na zona rural, e 63,5% estão no Nordeste.

Estes índices são marcados pelas desigualdades regionais. Enquanto a taxa de analfabetismo juvenil é de 5,8% no Brasil, ela salta para 12,8% na região Nordeste, 7,9% na região Norte, recuando para 3,1% no Centro-Oeste, 2,4% no Sudeste e 2% na região Sul. No Norte e no Nordeste a proporção de jovens analfabetos é maior na zona rural, enquanto nas outras regiões, eles são maioria nas zonas urbanas.

O recorte racial também revela disparidades na distribuição do acesso à educação. Considerando a população analfabeta de 15 anos ou mais no Brasil, observamos que 8,3% são brancos e 18,7% são negros.

Trata-se de uma diferença de 10,4%, o que reflete a exclusão histórica vivida pela população negra no Brasil, e a permanência das desigualdades raciais. A publicação do IPEA “Brasil: o Estado de uma Nação” 2005 revelou, baseada em dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios – PNAD 2002, que mantido o ritmo de redução do analfabetismo verificado na última década, apenas em 2020 os jovens negros, moradores do Nordeste, atingiriam a atual média nacional de alfabetização.

A realidade dos jovens que não sabem ler e escrever possui pouca visibilidade tanto na implantação dos programas de alfabetização como nas políticas públicas voltadas à juventude.
Quando se fala em analfabetismo é comum associá-lo a pessoas mais velhas, que não tiveram oportunidades de estudar no tempo considerado adequado, e que viviam num contexto histórico em que a educação pública não era reconhecida como direito universal. No entanto, os quase três milhões de jovens não-alfabetizados no Brasil demonstram que a exclusão educacional persiste em relação às novas gerações.

No âmbito da educação de jovens e adultos, os jovens costumam aparecer relacionados ao ensino fundamental e ao ensino médio, mas aparecem muito pouco quando o assunto é alfabetização. Também é comum que os debates sobre políticas educacionais para jovens concentrem-se no âmbito do ensino médio regular e na questão do acesso ao ensino superior.

A exclusão de parcela significativa dos jovens do acesso à alfabetização soma-se a um outro problema, detectado nos últimos anos, que é a dificuldade de letramento entre aqueles que já passaram pela escola. Se considerarmos a situação efetiva da população juvenil quanto à capacidade de utilizar a leitura e a escrita no seu cotidiano, como forma de participar da vida social, econômica e cultural, veremos que não basta considerar aqueles que não tiveram acesso à escola. O INAF – Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional 2003 revelou que, entre os jovens de 15 a 24 anos com pelo menos oito anos de estudo, apenas 38% possuem um nível de alfabetização pleno, que compreende habilidades para ler textos longos, localizar e relacionar informações, comparar textos e identificar fontes.

O mesmo estudo mostra que o aumento no percentual de jovens que estudaram até a 8ª série, de 57% em 2001 para 67% em 2003, não teve impactos nos níveis de alfabetismo, que se mantiveram no mesmo patamar.

Além dos jovens que ainda encontram-se excluídos do acesso à alfabetização, é preciso considerar também aqueles que, apesar de conseguirem chegar à escola, não estão atingindo as habilidades de leitura e escrita esperadas. Isso remete diretamente à qualidade da escola e dos programas de alfabetização e de educação de jovens e adultos. O direito à educação não se faz apenas mediante o acesso e o prosseguimento dos estudos, mas também por meio de um ensino que promova efetivamente o aprendizado.

Ana Paula Corti, 31, é mestre em sociologia, doutoranda em Educação na USP e assessora da ONG Ação Educativa.
CORTI, Ana Paula. Os jovens e o analfabetismo no Brasil. Jornal do Commercio, Recife, 03 out. 2006.

Disponível: http://www.acaoeducativa.org.br/base.php?t=nger_0223&y=base&x=lnger_0001&z=0.

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